E a cultura, como vive esse momento de crise?

E a cultura, como vive esse momento de crise?

Para falar sobre o cenário atual da cultura brasileira em meio a uma pandemia, entrevistamos o nosso diretor, o Professor Universitário— Especialista em Rádio e Televisão— Pesquisador— Autor do Livro A Era do Radioteatro e do blog História do Rádio, Roberto Salvador.

CÂMARA COMUNITÁRIA DA BARRA: Que dicas que poderíamos dar às pessoas no sentido de aproveitarem melhor o tempo ocioso?
ROBERTO: Na verdade, todos estamos sendo pegos de surpresa: “Fique em
casa”! Não estávamos preparados para não fazer nada. Compromissos cancelados, agenda atirada para o alto e uma forte sensação de inutilidade, até que soa o alarme de uma perspectiva assustadora: e as contas, quem vai pagar? Embora para muitos a ficha tenha demorado a cair, eis que alguns reagem e buscam dar um sentido a esse novo momento vivido
pela sociedade. Aproveitar o tempo ocioso passa a ser mais do que uma arte, uma necessidade para o corpo e para a mente. Fala-se muito em “arrumar gavetas e armários, jogando coisas fora”. Mas é necessário também que arrumemos as gavetas e os armários de nossas cabeças, jogando fora tudo aquilo que nos atordoa e enraivece molestando nosso espírito.


CÂMARA COMUNITÁRIA DA BARRA: O que de melhor a cultura brasileira tem oferecido nesse momento?
R- Uma infinidade de opções. Não haveria espaço aqui para citar esta ou aquela, uma vez que as alternativas são tantas quantas permitirem a criatividade . Pela necessidade do distanciamento entra em ação a Tecnologia. A Internet: o computador, redes sociais, streamings, filmes, programas de tevê a cabo, aplicativos de música e de uma infinidade de outros temas. Mas a cultura também reaqueceu o velho e saudável hábito de ler. Não apenas o livro físico, mas através de tablets. Não faltaram as
iniciativas cheias de inventividade de “música através das janelas” que começaram na Itália e rapidamente chegam até aqui. Artistas famosos buscam soluções alternativas e se apresentam desde suas casas, alguns dissimulando estar “muito a vontade”. Em suma, a chama da cultura segue acesa.

CÂMARA COMUNITÁRIA DA BARRA: Como você analisa a adequação da cultura a esse momento de crise?
ROBERTO SALVADOR: Gostaria de acrescentar que a história nos mostra, uma vez mais, que é nos momentos de crise que a engenhosidade e a capacidade criadora do ser humano mais se manifesta. E dessa feita, com a cultura não está sendo diferente. As “lives” sob os mais diversos temas,
artes plásticas, pinturas, desenhos, fotos, música clássica e popular, debates, enfim, tudo desfilando num imensurável palco e chegando até nós, revelando aspectos e visões curiosas sob inúmeros temas, tudo despojado com o conteúdo sobrepujando a forma.


CÂMARA COMUNITÁRIA DA BARRA- A cultura é um dos setores que mais sofre com tudo isso. Como você avalia o retorno das atividades depois que essa pandemia acabar?
ROBERTO SALVADOR: Vivemos um momento de ineditismo. Estamos todos sendo testados a cada hora. Tempos difíceis. Naturalmente a cultura, neste caso, as manifestações culturais, é fortemente afetada. E o que é a cultura, senão o complexo dos padrões do comportamento, das instituições e dos valores espirituais e materiais que são transmitidos coletivamente? Essa pandemia está mexendo com tudo, afetando a economia, alterando condutas, hábitos e até mesmo alguns valores. Todos dizem: “vai passar”, mas quando passar a sociedade não será mais a mesma. E por conta disso, a cultura refletirá todas essas consequências. Não sairemos impunes dessa pandemia. Como as grandes guerras, as pandemias provocam profundas mudanças. Serão os tempos do “novo normal”. Mesmo que surja, e assim
espero ansiosamente, uma vacina contra esse vírus, inauguraremos a era a.v. e a era p.v. ou seja a era antes da vacina e a era pós vacina. E finalmente constato que Milton Nascimento estava cheio de razão quando musicou e escreveu: “Nada será como antes amanhã”. E não será mesmo.

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